25 ANOS NA SIMPLICIDADE SACERDOTE

         Falar de si mesmo é sempre um desafio, principalmente depois de uma longa jornada, porém, dizer quem sou será menos difícil.

          Sou João Belarmino da Costa, sou paraibano de Lagoa de Dentro, inclusive nesta data que escrevo a minha cidade faz aniversario de emancipação, 62 anos, assim como eu. Beatriz e Francisco me trouxeram ao mundo e ele já retornou ao Pai. Venho de uma família de 05 irmãos eu sendo o quarto, como dizia meu pai “três mulheres um homem e um padre”.

         Trago comigo as raízes nordestinas de uma religiosidade popular, religiosidade da luta, da resistência, de um Deus que estará sempre no meio de nós. Mesmo quando deixei o nordeste, num primeiro momento por transferência do banco que trabalhava e depois para conhecer melhor a SVD, sempre cultivei a alegria de ser nordestino, mais também aberto para somar outros valores culturais.

          Depois de uma caminhada normal de formação: filosofia (USF/SP), Noviciado (Miracatu/SP), Teologia ( ITESP/SP), Estudo de Línguas ( Austrália), OTP ( Papua Nova Guiné) e renovando os votos durante os 09 anos chegou o momento decisivo de entrega total através do profissão perpetua  e do diaconato, tudo isso no mesmo ano de 1998.

Entre os meus pedidos missionários a Região Amazônica tinha sido uma escolha e fui contemplado para vir para estas terras de missão.

          A ordenação aconteceu em Dezembro e logo depois de celebrar as primeiras missas em nossas cidades de origens: Mercedes/PR  (Adolar), Oeiras/PI (Mariton) e Lagoa de Dentro/PB, já comecei a me organizar para o meu primeiro destino missionário de fato, BRA.

            Mesmo sendo brasileiro precisei de um tempo de adaptação, não tinha a barreira da língua, mais tinha o cuidado e o respeito de entender a história, tanto dos missionários Verbitas que já estavam, quanto de um povo que iam caminhando de acordo com as enchentes e vazantes dos rios e igarapés e que sabiam comemorar e agradecer cada etapa de sua história.

           Nestes 25 anos , como missionário verbita na BRA, as vezes reluto em olhar para trás porque ao passo que vou sentir saudade das coisas , de pessoas e de momentos bons também vou encontrar situações que me arrependo, embora que pecados confessados são pecados perdoados e o perdão nos converte e fortalece justamente para a missão que deve continuar.

            Nesta caminhada na BRA de 25 anos já pude contribuir, mesmo com as minhas limitações, de várias formas: pastoral vocacional, néos missionário, conselho regional. Hoje estou numa Paróquia situada bem no final do Oeste do Pará, quase na divisa com o Mato Grosso onde os desafios são diferentes mais de preocupação igual.

           Ultimamente tenho me dedicado mais a pastoral paroquial como também aos confrades do distrito (distrito Irmã Dorothy) composto de 05 paroquias com 10 confrades.

            Tenho consciência que como equipe de espiritualidade poderia fazer mais e como membro, quero fazer mais. Sempre acreditei que a nossa espiritualidade Trinitária e com nossa especificidade Arnaldina deve ser sempre o que nos sustenta e nos inspira para a Missão.

           Acredito que como família Arnaldina e equipe de espiritualidade somos forte e teremos a capacidade nos fortalecer. Precisamos nos encontrar mais, partilhar mais.

            Quando me dou conta que desde a minha entrada na congregação já se foram 34 anos e deste tempo 25 na Amazônia percebo que a minha história estará sempre entrelaçada com a história de tantas outras pessoas e tudo isso me aponta um caminho constante de desconstrução e ao mesmo tempo de reconstrução diária. E por isso gostaria de dizer que que faria tudo novamente porque sou agradecido aos Missionários do Verbo Divino, minha família de Missão ao Deus Uno e Trino que me sustenta na Fé.

JOÃO BELARMINO DA COSTA

 

 

 

 

REFLEXÃO DOMINICAL: II DOMINGO DO ADVENTO 2023

PREPARAR OS CAMINHOS DE DEUS

NO CORAÇÃO E NO MUNDO

            “Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. Todo o vale será aterrado, todo o monte e colina serão rebaixados; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os esburacados se tornarão planos. E toda a criatura verá a salvação de Deus.” (Lc 3,4ss.). A vinda de Jesus Cristo abre caminho, Ele é aquele que “rompe todas as cadeias” (Miq 2,13), que “faz em pedaços as portas de bronze e quebra as barras de ferro” (Sl 107, 16), “derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes” (Lc 1,52). É com este anúncio de esperança que recria a vida e o ser humano que celebramos o segundo domingo do advento.

              A vinda de Jesus é um caminhar na luta constante contra o mal. Não é esmagar o ser humano, mas quer nos encontrar em atitude de humilde expectativa, num caminho de conversão, a sua vinda foi preparada pelo convite a preparar o seu caminho. Tal preparação não é apenas um acontecimento interior, mas um agir que transforma a realidade de modo visível e de amplas proporções. “Todo o vale será aplainado.” Tudo o que caiu na miséria humana mais profunda, tudo o que foi pisado e humilhado será exaltado. «Todo o monte e colina serão nivelados.” Se Cristo há de vir, é necessário que toda a soberba, todo o orgulho se dobre.

            O caminho de Cristo é um caminho de recriação, de compaixão e misericórdia, mas também de justiça. Por isso, o caminho em que Cristo quer vir ao ser humano deve ser um caminho direito, um caminho transformador. “Os caminhos esburacados se tornarão planos”. Os apegos, a arrogância e a recusa podem ter endurecido de tal modo o ser humano que Cristo só com a ira pode aniquilar o recalcitrante e já não pode entrar nele com a sua graça, que a porta se fecha à vinda de Cristo na graça e nenhuma porta se abre àquele que nela bate.

            Cristo vem e abre o seu caminho, esteja ou não preparado o ser humano. Ninguém pode impedir a sua vinda, mas podemos opor-nos à sua vinda na graça, ao seu amor. Há condições do coração, da vida e do mundo que impedem de modo particular a recepção da graça e do amor Divino, que tornam infinitamente difícil a possibilidade de crer e comprometer-se com o projeto de Jesus. Mas tudo isto não nos dispensa de preparar o caminho para a sua vinda, de remover tudo o que a impede e dificulta. Não será a nossa indiferença que impedirá a sua vinda. Podemos tornar difícil para nós e para os outros o acesso à fé., mas não a vinda de Cristo e de seu Reino.

            É difícil para quem se encontra mergulhado no desânimo, na preguiça, no abandono, na pobreza, na impotência mais profunda crer na justiça e na bondade de Deus; é difícil para aqueles cuja vida mergulhou na desordem e na ausência de disciplina para escutar com fé a Palavra Divina; é difícil ao que está saciado pelo poder; é difícil a quem se deixou iludir pela heresia das mentiras e que se tornou interiormente e indisciplinado para encontrar a simplicidade e humildade necessária para se entregar, de coração, a Jesus Cristo.

            Mas tudo isto não exclui a tarefa da preparação do caminho. Trata-se antes de uma incumbência de enorme responsabilidade para todos os que sabem da vinda de Jesus Cristo. O faminto tem necessidade de pão, o sem teto de uma habitação, aquele que foi privado dos seus direitos de justiça, aquele que está só de companhia, o desregrado de ordem, o escravo de liberdade. Seria uma ofensa para Deus e para o próximo deixar o faminto na fome, porque Deus estaria de modo muito particular próximo justamente da necessidade mais profunda. Por amor de Cristo, amor que concerne tanto ao esfomeado como a mim, partimos com ele o pão, partilhamos com ele a habitação. Se os necessitados não chegam à fé, a culpa recai sobre aqueles que lhe recusaram o pão e o o testemunho da Palavra  divina. Proporcionar o pão ao esfomeado significa preparar o caminho para a vinda de Jesus, dando o testemunho do amor, da justiça e misericórdia divina.

            Preparar o caminho para Cristo não significa apenas criar determinadas condições desejáveis e convenientes, por exemplo levar a cabo um programa de reformas sociais. Se é verdade que a preparação do caminho consta de intervenções concretas no mundo visível, se é verdade que a fome e a sua satisfação são concretas e visíveis, é também verdade que o fato decisivo é que semelhante ação seja uma realidade espiritual porque, em última análise, se não trata justamente de reformar as condições do mundo, mas da vinda de Jesus Cristo. Só a uma preparação espiritual do caminho se seguirá a vinda do Senhor que que nos quer comprometidos coma conversão pessoal e social.

            Somos, então, neste segundo domingo do advento, convidados a rever nossa prática religiosa, e tomar uma decisão, fazendo um êxodo pessoal: abraçar a religião profética, abandonando todas as práticas das antigas estruturas, renovando a maneira de conceber Deus e abrindo-se ao Espírito Santo, dom de Jesus, o balizador por excelência.

            Mas isto significa que as ações visíveis que devem ter lugar para preparar os homens em vista do acolhimento de Jesus Cristo devem ser atos de humildade perante o Senhor que vem, ou seja, atos de penitência, de solidariedade, de justiça e de paz. Preparar o caminho quer dizer penitência (Mt 3,1ss.). E penitência significa conversão concreta, penitência exige ação, exige compromisso e fidelidade coma s causas do reino de Deus.

Pe. Arilson Lima, SVD