MISSÃO EM ALTAMIRA DO PARÁ

Indígenas com Pe. Rudolfo

Nossa missão em Altamira tem uma característica que explica o Verbo Divino. Ela é com povos indígenas e com os que moram na periferia da cidade. Atualmente, tem 3 confrades atuando nessa missão: Pe. Patrício Brennan, Pe. Rudolvus Oetpah e Pe. Elly Nuga. Eles se colaborem para manter a vida missionária. Esse relato também é uma obra deles que se unificar numa linda memória da missão.

Missão Indigenista

Depois de 10 anos com os Povos Indígenas em Oiapoque e tendo Pe. Belarmino para continuar o trabalho, fui transferido para Placas na Prelazia do Xingu. O município de Placas faz limite com a Terra Indígena Cachoeira Seca do Povo Arara, povo de recém-contato. Ficava preocupado com as invasões da Terra Indígena por parte de madeireiros e vendo os caminhões carregadas de madeira saindo de vários travessões.

Em 2010, recebi convite de Cleanton e Nilda do Cimi Altamira para fazer visita nas aldeias, porque não tinha outro padre para visitá-los. Nesta viagem com Pe. Gregório, visitamos várias aldeias e fizemos mais de 70 batizados. Na Aldeia Curuá disseram que fazia 12 anos que não tinha ido padre para lá. O casal do CIMI acompanhava as aldeias.  Naquela viagem, assumi compromisso com eles para de fazer visita uma vez por ano, Deus e saúde permitindo.  Mas tinha outros povos e aldeias que também pediam visita do padre. Depois de conversa com o bispo Dom Erwin e com a Congregação, assumimos a missão entre indígenas na Prelazia. Em 2014 mudei para Altamira. Depois veio o Irmão Jorge Gabriel para somar, formando equipe de quatro pessoas da equipe do Cimi.

Quando começamos em 2010, tinha em torno de 30 aldeias. Agora são em torno de 160. Têm 9 etnias, Juruna, Kuruaia, Xipaia, Arara, Parakaná, Kaiapó, Xicrim, Araweté, Assurini, e grupos isolados, (Sem Contato com não indígenas).

Procuramos trabalhar tanto na dimensão religiosa como social, acompanhando os povos nas suas organizações, lutas, especialmente na luta pela legalização das suas terras.  O maior problema é da terra, quase todos já conquistaram a demarcação e homologação das suas terras e agora é problema de DESINTRUSÃO (retirada dos invasores). Apesar de serem oficialmente demarcadas e homologadas, continuam invadidas por madeireiros, fazendeiros e garimpeiros. No ano passado o povo Arara de Cachoeira Seca foi até as portas do Governo Federal “mendigando” o processo de DESINTRUSÃO. O termo técnico para isso é INCIDÊNCIA. Em total de 48 indígenas (mulher, homem, jovem, adolescente e criança) ocuparam os ministérios apropriados e responsáveis nesse assunto (FUNAI, MP, MJ, STF, INCRA, MPI). Foram três dias de incidência, mas até hoje as promessas ainda ficam na sala da reunião. Demoram para chegar à implementação na T. I. Povo sofre e ainda foi enganado pelas empresas que querem se enriquecer pelos projetos multinacionais. Ainda no mês passado umas empresas chegaram na T.I para pedir assinatura de legalizar o Projeto de Mercado do Carbono que leva nome REDD+.

O Irmão Jorge Gabriel teve um grande início com o povo Arara e estágio a aldeia Laranjal, mas foi convocado pela seleção Argentina e voltou para seu país.  Pe. Agostinho também somou conosco durante algum tempo, mas foi sequestrado pelo povo de Trairão.  O povo de Trairão não gostou quando o Pe. Elly veio trabalhar conosco, mas os povos indígenas gostaram e já estão tocando cavaquinho.

No ano passado o povo Parakaná teve uma grande vitória quando conseguiram a desintrusão da sua terra depois de mais de 20 anos de luta e apesar de oposição de prefeitos, deputados, ministros, senadores e governador. Tivemos a honra também do nosso Regional Pe. Leonardo para uma visita aos Parakaná.

A alegria não durou muito tempo. O povo começou a construir novas aldeias na terra que foi retomada. Mas os invasores não se conformaram e já atacaram três vezes, atirando nas casas tocando fogo nas casas e ameaçando matar todos eles.

Outra grande preocupação do momento é da Terra Indígena Cachoeira Seca do povo Arara, que os madeireiros da Transamazônica continuam invadindo e fazendeiros criando gado dentro da T.I. além de caçadores e pescadores.

São 525 anos de perseguição, massacres, desrespeito para com os povos originários.

Até quando?

 

Área Pastoral e Missão na Periferia

Com a notícia do projeto de construção da Usina Belo Monte, houve invasão de Altamira de pessoas de fora em busca de emprego.  Em pouco tempo a população passou de 80 mil para 120 mil habitantes. A cidade não estava preparada para este influxo. Ao mesmo tempo moradores de vários bairros próximos do rio foram relocados porque com a barragem as áreas ficariam inundados. Ofereceram opção para as famílias de pagamento para as casas ou casa nova nos bairros mais afastados em locais que chamavam de RUC´s (Reassentamento Urbano Coletivo). O valor oferecido pelas casas era tão miserável que não dava para comprar ou construir outra casa. O povo optou pelos RUC´s.  RUC´s Jatobá, Água Azul, São Joaquim, Casa Nova, Laranjeiras, Tavaquara etc. Pessoas que não tinham casa nem dinheiro para comprar terreno, ocupavam áreas da prefeitura para construírem as suas casas. Empresários aproveitavam para fazer loteamentos, vendendo terrenos a prazo.

Vendo a necessidade da Prelazia acompanhar o crescimento, o Dom João decidiu formar três áreas pastorais, São Domingos, que foi entregue para as Irmãs Franciscanas de Ingolstadt, Sant´Ana que foi entregue para as Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã, e Área Pastoral Pe. Frederico Tschol entregou para os Missionários do Verbo Divino. A área foi desmembrada da Paróquia N. Sra. Da Conceição Imaculada.

O padre Rodolfo que trabalhava como Pároco em Placas veio para Altamira para assumir como primeiro Administrador da Área Pastoral Pe. Frederico e foi empossado no dia 13 de maio de 2017 na comunidade Sta. Isabel, Jatobá.  (Pe. Frederico era padre dos Missionários do Sangue de Cristo, muito querido na Prelazia e que faleceu em 2016).

A área tem quatro comunidades, Sta. Isabel, Jatobá (RUC) que já tem igreja.   Água Azul, (RUC), Comunidade Nossa Senhora de Fátima, que depois de muita luta finalmente conseguiu terreno da Norte Energia para construir igreja. Paixão de Cristo, área de ocupação e que leva esse nome porque o dia da ocupação foi Sexta-feira Santa. Tem como padroeiro, Cristo Rei. A comunidade está aos poucos construindo a sua igreja.  A quarta área é Viena, Nossa Senhora Desatadora de Nós, Loteamento que já tem terreno e está preparando para construir a sua igreja.

Já têm várias lideranças nas comunidades. Já funciona o dízimo e catequese de preparação para batismo, primeira comunhão e crisma. O povo gosta de participar do terço, campanha da Fraternidade em casa, novena de Natal e fazem festa dos padroeiros. Como a maioria é pobre há frequentemente distribuição de cestas básicas.